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CASAMENTO COM CIDADÃO AMERICANO NÃO GARANTE ENTRADA NOS EUA: A PRESUNÇÃO DE INTENÇÃO IMIGRATÓRIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS LEGAIS

Por Dra. Mara Pessoni
Advogada de Imigração — Witer, Pessoni & Moore, An International Law Corporation

Para muitos, o casamento com um cidadão americano parece ser um passe livre para os Estados Unidos. No entanto, a realidade jurídica está longe disso. A crença de que ser esposa ou esposo de um cidadão dos EUA facilita a entrada no país, especialmente com um visto de turismo (B2) ou via ESTA, é não apenas incorreta, mas potencialmente perigosa.

A legislação de imigração dos Estados Unidos estabelece princípios muito claros sobre quem pode ou não ser admitido no país, e um dos mais relevantes nesse contexto é o da presunção de intenção imigratória um conceito que afeta diretamente quem tenta entrar com status de não imigrante, mas possui vínculos evidentes com um cidadão americano.

O Princípio Jurídico da Intenção Imigratória (Immigrant Intent)

De acordo com o Immigration and Nationality Act (INA), qualquer pessoa que deseje entrar nos Estados Unidos com visto de não imigrante (como turismo, negócios ou estudo) deve demonstrar ao oficial de imigração que não tem a intenção de permanecer permanentemente no país.

Esse princípio é conhecido como “presunção de intenção imigratória” (Section 214(b) do INA), que estabelece que, a menos que o solicitante prove o contrário, presume-se que ele deseja imigrar. No caso de cônjuges de cidadãos americanos, esse ônus probatório é ainda mais pesado.

Por Que o Casamento com um Cidadão Americano Complica a Entrada com Visto de Turista

Embora o casamento com um cidadão americano seja uma das formas mais comuns de obtenção de residência legal permanente (green card), ele não confere nenhum status automático de entrada para o cônjuge estrangeiro que ainda está fora dos EUA.

Quando um cônjuge estrangeiro tenta entrar com um visto de turista ou autorização ESTA, a presença do vínculo conjugal com um cidadão dos EUA é interpretada como um indício claro de intenção imigratória o que vai de encontro à natureza temporária dos vistos de não imigrante.

Consequência prática: o oficial de imigração, ao identificar esse vínculo conjugal, pode negar a entrada com base na suposição de que o visitante pretende permanecer no país e ajustar status, ainda que essa não seja a intenção declarada.

O Que Diz a Lei: Base Legal para a Recusa

O INA §214(b) autoriza os oficiais consulares e os agentes da CBP (Customs and Border Protection) a negar entrada ou visto se não estiverem convencidos de que o requerente retornará ao seu país de origem ao final do período autorizado.

Para cônjuges de cidadãos americanos, a presunção se torna quase incontestável. Em termos práticos:

  • A menos que o casal viva comprovadamente fora dos EUA e mantenha residência estável no exterior;
  • Ou o estrangeiro esteja em processo formal de visto imigratório, como o CR1 ou IR1;

a entrada como turista será, na maioria dos casos, negada.

Além disso, caso o estrangeiro tente ocultar esse vínculo durante a entrevista consular ou inspeção no aeroporto, pode ser acusado de fraude ou má-fé, o que gera inadmissibilidade (INA §212(a)(6)(C)) e proibição permanente de entrada.

A Importância do Visto Adequado: CR1, IR1 ou K-3

Para os cônjuges que ainda não possuem residência legal nos EUA, existem categorias específicas de vistos:

  • CR1 (Conditional Resident Visa) – Para casamentos com menos de dois anos de duração.
  • IR1 (Immediate Relative Visa) – Para casamentos com mais de dois anos.
  • K-3 (Nonimmigrant Visa for Spouse of a U.S. Citizen) – Raramente utilizado hoje, mas tecnicamente ainda disponível.

Esses vistos reconhecem o vínculo familiar, mas exigem um processo formal com petições, comprovação de renda do patrocinador, exame médico, entrevista consular e histórico limpo de imigração.

Consequências de Ignorar a Presunção de Intenção Imigratória

Muitos cônjuges, por desconhecimento ou aconselhamento inadequado, tentam entrar nos EUA com um visto de turista ou ESTA. Os riscos são elevados:

  • Negativa de entrada no aeroporto (inadmissibility);
  • Cancelamento do visto e deportação imediata (expedited removal);
  • Proibição de entrada futura por cinco anos ou mais;
  • Dificuldade extrema para obter qualquer outro visto no futuro.

A legislação americana não se baseia em intenções subjetivas, mas sim em evidências objetivas. O simples fato de ter um cônjuge americano pode ser suficiente para gerar a presunção legal de que a pessoa pretende imigrar mesmo que venha apenas para uma visita.

Recomendações Jurídicas

  • Se você é casado(a) com um cidadão americano e ainda reside fora dos EUA, não tente entrar como turista sem orientação legal adequada.
  • Se deseja visitar temporariamente os EUA, consulte um advogado experiente que possa ajudá-lo a construir um histórico sólido de residência e vínculos com seu país de origem.
  • Se pretende imigrar, inicie o processo correto de ajuste de status ou solicitação de visto de imigrante, conforme sua situação.
  • Evite informações incompletas ou conselhos de assessorias sem formação jurídica. A legislação de imigração é altamente técnica e qualquer erro pode ser irreversível.

Conclusão: A Relação com um Cidadão Americano é Forte, Mas Não é um Visto

Ser cônjuge de cidadão americano é um vínculo poderoso perante a lei de imigração, mas não é um passe automático para entrada nos Estados Unidos. O sistema legal dos EUA opera sob princípios rígidos, e o conceito de intenção imigratória presumida é um dos pilares na análise de admissibilidade de não imigrantes.

Para proteger seus direitos e evitar frustrações e sanções legais, busque orientação jurídica especializada antes de tentar entrar nos EUA como turista.

OBS.: O propósito deste artigo é informar as pessoas sobre imigração americana, jamais deverá ser considerado uma consultoria jurídica, cada caso tem suas nuances e maneiras diferentes de resolução. Esta matéria poderá ser considerada um anúncio pelas regras de conduta profissional do Estado da Califórnia e Nova York. Portanto, ao leitor é livre a decisão de consultar com um advogado local de imigração

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